quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ENEM E USP: TEMPO DE REFLEXÃO

Benilson Toniolo

José Saramago dizia que não se pode atribuir fracasso ao comunismo, porque o que fracassou foi a forma de implantar o sistema, e não o sistema em si. Recorro a esta alegoria do grande escritor português para me referir a mais esta celeuma envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM.
Criado como forma de avaliação do Ensino Médio no País, hoje o ENEM possibilita ao candidato, entre outras vantagens, obter o certificado de conclusão do antigo “segundo grau” sem ter que recorrer às classes de Supletivo, bastando para isso ser maior de dezoito anos, ter concluído o Ensino Fundamental e obter os pontos mínimos exigidos tanto nas matérias quanto na redação. Há quem veja, num futuro bem próximo, a extinção do próprio Vestibular para o Ensino Superior, substituído, justamente, pelo ENEM.
Algumas escolas particulares acabam fazendo uso da prova para fins de propaganda, ao “preparar” de forma diferenciada seus melhores alunos exclusivamente para terem uma boa performance no exame e, assim, poder estampar nos meios de comunicação dirigidos ao seu público consumidor as notas obtidas pelos seus “eleitos”. Em troca, o aluno recebe descontos na mensalidade e outros privilégios exclusivos. Temos aí, portanto e de forma clara, o uso do exame como “estratégia de marketing”, o que acaba por desviar completamente o propósito inicial de sua existência.
Ocorre que o ENEM, já há alguns anos, passa por grave crise de falta de credibilidade, acometido que foi por escândalos como os vazamentos das provas em 2009 e agora, em 2011, o que deixa o atual Ministro da Educação, literalmente, sem saber o que fazer. É sempre assim: sempre que relegarmos unicamente aos políticos a solução para os problemas do País, as respostas serão demoradas e, em geral, insuficientes.
O ENEM não deve acabar, como defendem alguns. Antes, deve ser repensado e aperfeiçoado, como instrumento importante para o desenvolvimento e retomada da Educação brasileira, atualmente tão carente de idéias e projetos.

Coincidência: na mesma semana em que li, em revista especializada, uma matéria sobre o sistema de Segurança nas universidades públicas brasileiras e, em especial, na USP, a Polícia Militar apreendeu maconha durante abordagem a três estudantes, nas dependências do Campus, e fez valer para a apreensão o que diz a Lei, ou seja: os três recolhidos à autoridade policial para a devida averiguação. Foi o suficiente para provocar a ira dos demais acadêmicos. Diante da selvageria verificada na reação por parte de alguns deles, com invasões e depredações, vale a pergunta: os estudantes daquela instituição, por acaso,  estão acima da Lei, pelo simples fato de serem estudantes de uma Universidade Pública? Creio que não. Prova disso é o claro posicionamento da sociedade -contrário aos excessos cometidos por estes alunos, provavelmente ávidos por repetir uma história de protestos e luta que, por sinal,  não conheceram. Mas que, pelo menos naquela época dura e arbitrária,  tinha uma Causa.