quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

PROFESSORES, ALUNOS E LIVROS

                                                                                                                                        Benilson Toniolo

Alguns amigos costumam dizer que eu gosto muito de ler. Outros, que leio demais. Ambos estão absolutamente… errados. Na verdade, a impressão que tenho é que a vida, para mim, seria impossível sem a leitura. Diariamente, leio no mínimo uma hora. E quando dou por encerrada a leitura de um livro, anoto em diários minhas observações e impressões sobre a obra, antes de iniciar uma nova leitura – hábito também cultivado pelo meu grande amigo, o Pastor Jesus Anacleto Rosa, uma personalidade cada vez mais rara de se encontrar hoje em dia e um homem que me dá generosamente o privilégio de sua valiosa amizade. Chego a copiar trechos inteiros de determinadas obras, de tanto fascínio e inquietação que me provocam. Fazer o quê? Vício é vício.
Meus filhos e minha mulher também são leitores contumazes. De Harry Potter a Érico Veríssimo, em casa lê-se de tudo. A Turma da Mônica, então, é covardia. Tem mais revistinhas do Mauricio de Souza em casa do que, dependendo do dia do mês, comida na geladeira.
Diria que são dois os responsáveis por esta minha, digamos assim, “mania”: um foi meu pai, alagoano servente de pedreiro que se alfabetizou aos vinte e cinco anos de idade para poder realizar seu sonho de tirar carteira de motorista – numa época em que não havia nem mesmo o Mobral. O outro foi a Escola.
Tive a sorte de ter contado, naquela época que nós, os ancestrais, chamávamos de “primário” e, depois “ginásio”, com professores que estimulavam nos alunos não somente o gosto, mas principalmente o prazer pela leitura. Muita gente ainda se lembra da série Vaga-Lume, uma coleção de livros infanto-juvenis que era uma verdadeira febre entre a garotada. Até hoje sei de cor os títulos e as tramas daqueles livros e suas capas coloridas. Não líamos apenas o que os professores determinavam: vasculhávamos as bibliotecas públicas em busca de outros livros da coleção, pedíamos de presente de aniversário a nossos pais, trocávamos, emprestávamos… Tínhamos entre dez e quinze anos, e mal sabíamos que nossos mestres estavam inserindo em cada um de nós uma chama que haveria de durar por toda a vida: a do amor pela leitura e pelos livros.
Hoje, tantos anos depois, continuo a ler, e de forma cada vez mais exigente: se um livro não me instiga, não me cutuca, não me surpreende e nem me provoca, não penso duas vezes: largo. Fiz isto com Nietzsche, recentemente, e seu Zaratustra. Por isso lamento por aquelas pessoas que me dizem que lêem um determinado livro porque ele é “importante”. Um livro deve ser lido somente quando dá prazer, e quando tem a capacidade de transformar o leitor. Se eu sair de uma leitura da mesma forma que entrei, então a única certeza que tenho é que toda a leitura não passou de uma grandiosa e irrecuperável perda de tempo.
Quem lê, pensa. E quem pensa toma para si o seu próprio destino.
Sorte daqueles alunos que tiveram – e que têm, e que terão – professores que farão deles futuros leitores. Sorte daqueles professores que entenderam e levam adiante a tarefa de contribuir para o desenvolvimento intelectual dos seus educandos.

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