Benilson Toniolo
Parece que foi necessária uma tragédia sem precedentes na história do País para que começássemos a olhar com mais cuidado para o que se passa nas nossas escolas. Depois disso, a impressão que se tem é que levantaram um imenso tapete, e o que foi encontrado debaixo dele é terrível demais para ser ignorado.
Diariamente, a grande maioria dos jornais passou a trazer relatos horripilantes sobre o dia-a-dia escolar: ofensas, homofobia, racismo, intolerância, apologia à pornografia, desrespeito, agressões, ameaças, espancamentos, omissão, desleixo, tráfico e consumo de drogas (inclusive álcool) dentro das dependências das escolas, vandalismo, furtos, roubos, depredação. Hoje, um fenômeno nem um pouco novo, mas de nome pomposo –bullyng- virou “justificativa” para os atos mais inomináveis, e temos que admitir que, apesar de ser citado, estudado e discutido à exaustão, poucos parecem saber o que deve ser feito para combatê-lo.
Os agredidos são obrigados a mudar de escola, enquanto os agressores continuam sua saga de violência e covardia, à caça diária de novas vítimas, sem que ninguém faça nada para impedir que continuem agredindo, machucando e humilhando os colegas (é só ler a última edição d’O Povo). Professores, apesar do comprometimento e do amor que muitos têm pela profissão e pelo “sacerdócio” do ensino, são expostos, ameaçados e mutilados, e a imensa maioria passa por seriíssimas dificuldades financeiras, sendo obrigados a pedir ajuda a pais e parentes para poder honrar as mínimas necessidades básicas, como comer, vestir-se e pagar contas de água e luz, graças a salários miseráveis e incondizentes com a dignidade humana. Alguns prédios correm o risco de desabar. Dia desses, conversava com um aluno de Ensino Médio da Cidade, e perguntei-lhe como estavam as aulas em sua escola. A resposta: “a gente quase não tem aula. Vou lá, respondo a chamada e vou embora. Nunca tem professor. Se temos aulas duas vezes na semana, é muito”.
Para complicar ainda mais este quadro, nosso MEC, entre outras coisas, parece ter sido contaminado pelo vírus da ignorância que grassa no País, quando ameaça abolir “As Caçadas de Pedrinho”, do mestre Monteiro Lobato, das escolas públicas, distribui material com erros absurdos de matemática e estabelece que é certo escrever errado.
Recentemente, na Espanha, um aluno foi expulso da escola, e, em uma semana, julgado e “condenado” a manter distância mínima de 200 metros de sua professora. O motivo: ofendeu-a, devido a uma nota baixa. Milagre? Não. Instituições que verdadeiramente funcionam. Respeito. Justiça. Será que é tão difícil assim?
Campos do Jordão tem, seguramente, inúmeros bons exemplos em educação, que devem ser valorizados, aperfeiçoados e implantados em todos os estabelecimentos de ensino. Quanto aos aspectos ruins, nenhuma surpresa: os problemas daqui são exatamente os mesmos do restante do País, e devem ser identificados e combatidos antes que se transformem em questões sem solução. Aliás, vai aqui um desafio: que tal elaborarmos juntos –escola, poder público e sociedade- um projeto que coloque nossa Cidade, daqui a alguns anos, em lugar de destaque como referência em qualidade no ensino público nacional?
Não temos escolha. Estamos envolvidos até o pescoço nesta questão. São dois os caminhos que se apresentam: 1) jogamos tudo novamente embaixo do tapete, como quem não viu nada e nem sabe de nada, o famoso “deixa estar pra ver como é que fica” ou; 2) arregaçamos as mangas e começamos, agora mesmo, a consertar a casa –que está caindo.
Que a educação brasileira chegou ao fundo do poço, não há dúvidas. Temos provas diárias disso. O lado bom é que, parafraseando o escritor Joca Reiners Terron, do fundo do poço também é possível enxergar o sol.
Sem comentários:
Enviar um comentário