sábado, 29 de outubro de 2011

SEM RECREIO

Benilson Toniolo

Dia desses, enquanto esperava na fila do churrasco do Estância Grill, encontrei um bom e velho amigo, dos tempos em que trabalhamos juntos na Hotelaria. Aliás, uma das coisas boas de se morar em Campos do Jordão é poder sempre encontrar amigos, ainda que esta rotina, hoje em dia, comece a ficar cada vez mais rara.
Daí que, ao falar dos filhos, ele me conta que seu caçula de nove anos, outro dia, contou que havia ficado sem recreio na Escola. Os pais quiseram saber:
- Mas o que foi que você fez para a tia deixar você sem recreio?
- Não fiz nada, ué. Ela que implica comigo.
- Como, não fez nada? Por que é que a professora ia deixar você sem recreio por não ter feito nada?
Então o menino explicou. Quem estava bagunçando, mesmo, eram os outros, a saber, os dois colegas das carteiras da frente e os dois colegas das carteiras de trás. Ele, por azar, estava sentado justamente na carteira do meio, e tinha sido incluído no rol dos bagunceiros por pura implicância da –como eles mesmos dizem- tia.
A versão do menino, pelo que se sabe, é no mínimo duvidosa. Mesmo porque todos os amigos dos pais sabem bem do quão “santinho” é o pequeno infante injustiçado. Mas o que mais me chamou a atenção não foi o fato, por sinal bem corriqueiro. Aliás, é muito bom saber que as tias ainda lançam mão de métodos antigos (eu mesmo fiquei sem recreio numa tarde de 1976) para disciplinar seus alunos.
O que mais me chamou a atenção foi a reação deste meu amigo. Ou melhor, sua falta de reação: além de ter confidenciado o fato a mim, não fez mais nada, segundo ele próprio. Existem aí, pelo que o menino contou, pelo menos duas possibilidades: se o menino estava bagunçando e foi punido com a perda do recreio, mentiu para os pais. Se falou a verdade, foi injustiçado. Logo, o caso precisa ser esclarecido. Como? Simples: consultando a profissional responsável, a professora –e não simplesmente a tia.
O pai e a mãe, infelizmente, pensam de forma diferente. Acham que, desde cedo,  criança tem que se virar e resolver seus próprios problemas. Claro, muito instrutivo. Vida moderna é isso aí. Mas aqui, eu insisto, estamos diante de um impasse que deve ser apurado pelos responsáveis. Se o menino mentiu, a esta hora já percebeu que, na vida, vale tudo na hora de limpar a própria barra –inclusive mentir. Se foi punido indevidamente, certamente herdará do episódio a terrível sensação de ter sido vítima de  injustiça, sem que ao menos tenha podido se defender diante da atitude de uma autoridade –e poderá, pela vida afora, perder a capacidade de reação diante das injustiças que a vida, diariamente, nos impõe.
Lavar as mãos e fazer vistas grossas diante de um impasse, como sabemos, nunca foi a melhor atitude a ser tomada –muito menos quando o assunto é a formação de nossos filhos. Qual o problema em investir –reparem bem no verbo- um pouco do nosso tempo diário para comparecer à Escola e, sem traumas, conversar de forma civilizada com a professora sobre o ocorrido? Não há necessidade, claro, de confrontar a ambos, aluno e professora, até para que não haja constrangimento nem causar danos ao já conturbado relacionamento dos dois. Neste caso, não há dúvidas que o diálogo e a tomada de uma atitude proativa e conciliadora sejam o melhor caminho a ser tomado para a solução do problema e a elucidação do ocorrido.
Para isso, basta que os pais estejam verdadeiramente comprometidos com a educação dos filhos. O que –convenhamos- não é algo tão simples assim de se encontrar hoje em dia.

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